Não podemos de forma nenhuma estigmatizar as famílias que fizeram esta opção pessoal, quase “intimista”, do ensino em casa. No entanto, com todas as suas lacunas, a importância da escola mantém-se incontornável.
A Escola é, antes de tudo, um lugar indispensável à socialização e que, de algum modo, faz uma ruptura simbólica com a família. Não se trata apenas do local onde as crianças vão para aprender. É um local onde elas vão aprender a aprender com os outros, para encontrar pessoas vindas de outros sítios, com histórias diferentes, com outras convicções que não só aquelas existentes nas suas famílias.
Este encontro com a alteridade e a diferença é essencial para o desenvolvimento da criança. Em termos de abertura de espírito, o colectivo escolar tem virtudes que o ensino familiar não permite, ou só muito excepcionalmente terá condições de oferecer… Percebemos as objecções das associações de pais, que afirmam que a escola não tem suficientemente em conta as aspirações dos seus filhos no que toca à criatividade, ao contacto com a natureza e de não estar atenta aos problemas individuais, aos handicaps de alguns que têm mais dificuldade em acompanhar uma turma. E isso é verdade!
Se na ideia do Presidente francês a escolarização, e não só a instrução, se torna obrigatória, vai ser preciso que a Educação Nacional faça um esforço real em direcção de todas estas crianças que hoje têm escola em casa. Trata-se, aqui, de ter mais em conta as suas personalidades e singularidades. Melhorar também os contactos, a “mistura entre todos”.
A aprendizagem reduzida ao contexto familiar têm o problema de não oferecer um colectivo, o grupo de que a criança precisa para se realizar. Ela também precisa de alguém que não seja um familiar para incarnar a transmissão de conhecimentos de uma forma rigorosa: é importante distinguir o registo familiar, que é do domínio afectivo, e o registo das aprendizagens cognitivas, mesmo que não exista nenhuma barreira entre os dois.
O que estrutura psicologicamente a criança é: “os meus pais gostam de mim, fazem-me descobrir aquilo que eles gostam; o meu professor faz-me descobrir um mundo de modo mais amplo, independentemente das escolhas da minha família”.**
* No original: “Face à l'instruction à domicile, Philippe Meirieu plaide pour l'école, "rencontre de l’altérité et de la différence". LER >>>
** Vejo a família como algo próximo de uma comunidade. (…) O que é decisivo aí são as relações afectivas. (…) O que une uma comunidade são as forças centrípetas que fortalecem o vínculo em torno de algo que aproxima as pessoas.