Uma leitura para o caso português de Luís Goucha
Não podemos de forma nenhuma estigmatizar as famílias que fizeram esta opção pessoal, quase “intimista”, do ensino em casa. No entanto, com todas as suas lacunas, a importância da escola mantém-se incontornável.
A Escola é, antes de tudo, um lugar indispensável à socialização e que, de algum modo, faz uma ruptura simbólica com a família. Não se trata apenas do local onde as crianças vão para aprender. É um local onde elas vão aprender a aprender com os outros, para encontrar pessoas vindas de outros sítios, com histórias diferentes, com outras convicções que não só aquelas existentes nas suas famílias.
Este encontro com a alteridade e a diferença é essencial para o desenvolvimento da criança. Em termos de abertura de espírito, o colectivo escolar tem virtudes que o ensino familiar não permite, ou só muito excepcionalmente terá condições de oferecer… Percebemos as objecções das associações de pais, que afirmam que a escola não tem suficientemente em conta as aspirações dos seus filhos no que toca à criatividade, ao contacto com a natureza e de não estar atenta aos problemas individuais, aos handicaps de alguns que têm mais dificuldade em acompanhar uma turma. E isso é verdade!
Se na ideia do Presidente francês a escolarização, e não só a instrução, se torna obrigatória, vai ser preciso que a Educação Nacional faça um esforço real em direcção de todas estas crianças que hoje têm escola em casa. Trata-se, aqui, de ter mais em conta as suas personalidades e singularidades. Melhorar também os contactos, a “mistura entre todos”.
A aprendizagem reduzida ao contexto familiar têm o problema de não oferecer um colectivo, o grupo de que a criança precisa para se realizar. Ela também precisa de alguém que não seja um familiar para incarnar a transmissão de conhecimentos de uma forma rigorosa: é importante distinguir o registo familiar, que é do domínio afectivo, e o registo das aprendizagens cognitivas, mesmo que não exista nenhuma barreira entre os dois.
O que estrutura psicologicamente a criança é: “os meus pais gostam de mim, fazem-me descobrir aquilo que eles gostam; o meu professor faz-me descobrir um mundo de modo mais amplo, independentemente das escolhas da minha família”.**
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* No original: “Face à l'instruction à domicile, Philippe Meirieu plaide pour l'école, "rencontre de l’altérité et de la différence". LER >>>
** Vejo a família como algo próximo de uma comunidade. (…) O que é decisivo aí são as relações afectivas. (…) O que une uma comunidade são as forças centrípetas que fortalecem o vínculo em torno de algo que aproxima as pessoas.
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