Rodrigo Arénas |
Versão portuguesa de Daniel Lousada
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Implacável, impiedosa, esta crise pôs em destaque todas as fraquezas de um sistema de ensino obsoleto. De certa forma, deixados à sua sorte, dependentes dos recursos familiares, a maior parte dos estudantes viram o seu percurso escolar condicionado pelo ambiente económico e social das suas famílias. Neste caos, vimos sobretudo uma escola desadequada ao mundo em que vivemos, ultrapassada pela marcha do tempo.
O modelo escolar está num impasse. A escola já não responde aos problemas que as crianças enfrentam, se é que alguma vez respondeu.
O papel da educação está a ser profundamente atacado. Quer a consideração da educação como um produto, que a escola comercializa, como a proletarização da profissão docente, estão a perturbar os fundamentos da instituição escolar. Assiste-se, hoje, à ideia de que os professores podem ser restaurados à sua “antiga glória”, como se houvesse alguma glória nisso!
A escola está ligada à República e aos seus valores; não existe apenas para aprender a ler, escrever e contar. Ela deve, acima de tudo, proporcionar às crianças os meios de que estas necessitam para agirem no e sobre o mundo.
A tecnologia digital está também a mudar a escola que, ao resistir [por impulso] à mudança, é incapaz de fornecer o básico. Há toda uma aprendizagem por fazer! Sem uma estrutura consistente que os apoie, os estudantes são transformados em utilizadores de uma tecnologia que os domina. Durante o confinamento, os professores, desprovidos da forma artesanal que caracteriza a sua profissão, viram-se apenas treinadores de aplicações e software. E, no final, o que se viu foi o sector privado a engordar à custa dos défices do sistema Nacional de Educação.
O modelo escolar está num impasse. A escola já não responde aos problemas que as crianças enfrentam, se é que alguma vez respondeu.
O papel da educação está a ser profundamente atacado. Quer a consideração da educação como um produto, que a escola comercializa, como a proletarização da profissão docente, estão a perturbar os fundamentos da instituição escolar. Assiste-se, hoje, à ideia de que os professores podem ser restaurados à sua “antiga glória”, como se houvesse alguma glória nisso!
A escola está ligada à República e aos seus valores; não existe apenas para aprender a ler, escrever e contar. Ela deve, acima de tudo, proporcionar às crianças os meios de que estas necessitam para agirem no e sobre o mundo.
A tecnologia digital está também a mudar a escola que, ao resistir [por impulso] à mudança, é incapaz de fornecer o básico. Há toda uma aprendizagem por fazer! Sem uma estrutura consistente que os apoie, os estudantes são transformados em utilizadores de uma tecnologia que os domina. Durante o confinamento, os professores, desprovidos da forma artesanal que caracteriza a sua profissão, viram-se apenas treinadores de aplicações e software. E, no final, o que se viu foi o sector privado a engordar à custa dos défices do sistema Nacional de Educação.
A escola tem, por vezes, regras muito próximas da prisão. É uma escola que controla o próprio corpo. Um bom exemplo disso é o acesso aos sanitários: em França [e entre nós não faltam exemplos disso], as crianças vão às casas de banho, quando as regras o permitem e não quando precisam. Temos escolas que não conseguem sair do modelo de organização que Foucault (d)escreve: professores que vigiam a classe de acordo com regulamentos nada amigáveis dos alunos. Obviamente, há professores que resistem a isto. É o sistema que está a falhar.
Precisamos de quebrar o modo como a escola se estrutura. Precisamos de uma escola construída para os mais frágeis; uma escola capaz de organizar aulas que integra vários níveis, que ensina as crianças a encontrar soluções através da colaboração e da solidariedade. Precisamos de uma escola que procura a felicidade das crianças, que sabe como ir para além do quadro disciplinar. Uma escola que saiba reagir à pressão de tremendas desigualdades sociais.
As desigualdades sociais são o principal problema da escola e estão no topo da lista de preocupações dos pais. E, no entanto, parece que aceitamos a ideia de que a escola não tem como agir nesta área. Nalguns discursos, por vezes, a desigualdade social é vista mais como algo que nos desculpabiliza, pelo que não fazemos, do que um desígnio à volta do qual nos deveríamos mobilizar. Ora, aceitar a ideia de que a escola faz apenas o que pode nesta área, é abrir a porta aos que pensam que, na escola, é cada um por si.
Estamos numa encruzilhada. Nunca, como hoje, os desafios do desenvolvimento sustentável foram tão estruturantes. Quem pode dizer que a ecologia não é uma questão central para as gerações futuras? Mas a escola não responde a esta pergunta. O mesmo se aplica à tecnologia digital. Se a escola não se preparar para ela, então será o GAFAM ** que prevalece.
Precisamos de quebrar o modo como a escola se estrutura. Precisamos de uma escola construída para os mais frágeis; uma escola capaz de organizar aulas que integra vários níveis, que ensina as crianças a encontrar soluções através da colaboração e da solidariedade. Precisamos de uma escola que procura a felicidade das crianças, que sabe como ir para além do quadro disciplinar. Uma escola que saiba reagir à pressão de tremendas desigualdades sociais.
As desigualdades sociais são o principal problema da escola e estão no topo da lista de preocupações dos pais. E, no entanto, parece que aceitamos a ideia de que a escola não tem como agir nesta área. Nalguns discursos, por vezes, a desigualdade social é vista mais como algo que nos desculpabiliza, pelo que não fazemos, do que um desígnio à volta do qual nos deveríamos mobilizar. Ora, aceitar a ideia de que a escola faz apenas o que pode nesta área, é abrir a porta aos que pensam que, na escola, é cada um por si.
Estamos numa encruzilhada. Nunca, como hoje, os desafios do desenvolvimento sustentável foram tão estruturantes. Quem pode dizer que a ecologia não é uma questão central para as gerações futuras? Mas a escola não responde a esta pergunta. O mesmo se aplica à tecnologia digital. Se a escola não se preparar para ela, então será o GAFAM ** que prevalece.
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* No original, “Plaidoyer pour une Ecole du XXIème siècle”. Entrevista publicada no “Le Café Pédagogique", aqui condensada em forma de artigo.
** Sigla para Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft, as cinco maiores empresas da Internet, cujos orçamentos correspondem ou excedem os dos estados mais ricos do mundo...
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