Nem toda a inovação é, de facto, inovação, alerta Philippe Meirieu. Nem toda a iniciativa inovadora leva ao progresso.
A palavra inovação, na prática de muitos, remete para um conceito que se alastra de uma forma ambígua, que não questiona os seus fins: “Para que tudo fique na mesma é preciso que algo mude”, diz o príncipe de Salina, personagem do romance histórico "O Leopardo", de Giuseppe Tomasi. A inovação pode, aliás, esconder um retrocesso, ou uma abordagem comercial virada para o lucro, como é o caso da marca “Montessori”, que se tem expandido numa caricatura pedagógica, espécie de franchising, que se alimenta do prestígio da pedagoga italiana. Nesta visão comercial, a pedagogia surge como receita vendida por uma “casa-mãe”, com os seus centros de formação,* que cuida que os utilizadores aplicam correctamente a receita, usando os produtos (planos, materiais didácticos) fornecidos ◆.
Queres uma pedagogia inovadora? – perguntam-nos, certos vendilhões – Não penses mais. Nós já pensamos por ti. Temos a inovação que procuras ao preço de...É preciso resistir ao endeusamento da “inovação” que faz de nós actores apenas. “O professor que inova não se submete a protocolos estandardizados”, defende Philippe Meirieu. E, citando Jules Ferry e Jaurés, continua: “Não faremos homens livres com professores submissos. A República não ensina por nenhum catecismo”. Devemos vivenciar e não apenas proclamar os valores republicanos, para que nenhum aluno seja excluído do conhecimento, conclui Meirieu.
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* Algo que não é necessariamente mau, face à ausência propostas de trabalho que nos mobilizem!