Daniel Lousada
Exertos de "A Onda" |
Procuro a relação da Ética com a Estética, não através do significado das palavras mas através dos seus significantes. E, nesta procura, verifico a impossibilidade de uma Estética sem Ética; quer dizer, toda a estética esconde uma ética.
"O estético, ao trazer a interpretação da vida, gera novos modos de integração ética (...). Isso implica na necessidade de desencadear um processo reflectido sobre as formas de relação entre ética e estética, de modo a explicitar os problemas e perspectivas que se apresentam à ética na educação, diante da emergência dos processos de estetização do mundo da vida" (1).
A relação pedagógica constrói-se sobre uma ética, a que procuramos dar forma, através dos múltiplos gestos presentes no modo como nos relacionamos, nos contextos em que actuamos, nos cenários que criamos, ... Quer dizer, há uma estética que emerge, a dar forma à ética, que fundamenta a prática pedagógica. Prática pedagógica que, neste sentido, se revela numa estética: uma estética de comunicação verbal e não verbal. Dir-se-á, então, que toda a ética necessita de uma estética para se revelar: "(...) ética e estética tornam-se um só; e o projecto de uma vida ética torna-se um exercício de viver esteticamente" (2).
Olhemos o cenário de sala de aula representado no vídeo. Analisemos a sua estética, e procuremos identificar nela a ética revelada, por comparação com cenários de outros contextos conhecidos. Não serão necessários, certamente, grandes esforços de imaginação, para chegar à ética que esta estética revela: alunos em carteiras, dispostas em filas, respondem à voz de comando, quais soldados perfilados numa parada militar, num ritual que se integra mais num ritual de adestramento que num ritual educativo. Uma estética que tem na defesa de um certo conceito de disciplina a sua principal motivação.
Que projecto de vida ética propomos, com o modelo de organização da sala de aula que adoptamos?
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1 HERMANN, Nadja, Ética e estética, EDIPUCRS, Porto Alegre, 2005: p. 14
2 SHUSTERMAN, Richard. Vivendo a arte: o pensamento pragmatista e a arte popular. São Paulo, 1998: p.207 (citado por Nadja Hermann 2005, p. 71)
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