"Que ninguém me peça esse andar certo de quem sabe o rumo e a hora de o atingir. (...) Na minha vida nem sempre a bússola se atraí ao mesmo norte". Fernando Namora [1]
O "projecto educativo" entrou oficialmente na escola há quase 40 anos, aquando da criação da Área Escola [Área curricular não disciplinar], que integrou a reforma curricular de Roberto Carneiro. Falávamos então de pequenos projectos educativos de carácter curricular, muito orientados para os conteúdos do programa. Tempos depois, a Área Escola dá lugar à Área de Projecto e o projecto "educativo" [?] passa a fazer parte do trabalho do professor, não por vontade própria, diga-se, mas porque a lei a isso obriga.
Então, por força desta obrigação, o que se vê, a maior parte das vezes, são projectos nascidos como cogumelos e que, sem colherem a qualidade que o adjectivo "educativo" lhes poderia conferir, de educativo têm muito pouco. Porque projecto, por imposição, até pode ser projecto, mas não é educativo.
A palavra projecto, além de nome, é também forma verbal: eu projecto, na primeira pessoa, como que a dizer que não suporta imperativo. Parafraseando Danniel Pennac [2], "é uma aversão que compartilha com outros verbos: o verbo «caminhar»... o verbo «sonhar»...". E, como qualquer um destes verbos, reivindica a mesma liberdade. Porque não sonhamos a pedido, sonhos que não são nossos. Os caminhos dos outros... até podemos caminhar, mas não com o mesmo prazer que caminhamos os nossos. Conjugado na segunda ou terceira pessoa não compromete quem fala: tu projectas, ele projecta, eu não... que o mesmo é dizer, quem projecta não está comprometido com o trabalho; e quem trabalha, fá-lo num projecto que não é seu. "Como se não conseguíssemos mudar a sala de aula e fizéssemos umas flores à volta dela, projectos com a comunidade, actividades artísticas. Não inovamos no coração da pedagogia" [3].
Depois esta obsessão de levá-lo até ao fim a qualquer preço, como foi pensado! Como se a imprevisibilidade, os desvios de percurso, ou mesmo a possibilidade de não conseguirmos levá-lo até ao fim, não fossem parte da natureza do projecto. "Às vezes a escola obriga os garotos e os professores a avançar com projectos, que a gente percebe que não vão dar em nada. (...) O que temos é de perceber porque é que não termina" [4].
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[1] Por todos os caminhos do mundo, in Mar de Sargaços, poemas. Atlântida, Coimbra, 1940: p. 8
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