sexta-feira, 10 de abril de 2020

Como vai ser a escola, quando a escola voltar?

IMAGINANDO SER PROFESSOR, outra vez
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Divagações a partir do poema 
“Para além da curva da estrada” 
de Alberto Caeiro, que me tem 
acompa­nhado nestes dias.

Não sei como vai ser a escola, quando a escola voltar. “Não sei e tenho raiva de quem sabe”!, como é uso dizer-se por cá. Quem quiser saber que procure, desde que me mantenha confortavelmente à distância. De momento, estou ocupado a percorrer a “estrada antes da curva”, como Alberto Caeiro 1. Se estou longe ou perto da curva, não sei! - ainda não me foi dado ver curva nenhuma, quanto mais o que virá depois dela: quando lá chegar saberei. Então, do que preciso é de compreender a escola hoje, como é amanhã! Mas amanhã mesmo! Não o amanhã poético, indefinido, longínquo…, mas o dia que sei ter pela frente ao acordar – Hoje, o que menos me interessa são perguntas que paralisam. Não quero, sinceramente, que me digam o que virá depois disto, porque venha o que vier não será o que me disserem que vem:Talvez haja um poço, e talvez um castelo, e talvez apenas a continuação da estrada” 2, não sei!

Há quem diga, numa expressão que me soa [por culpa minha, certamente] a treina­dor de bancada, que tenho “de fazer ‘reset’ 3 daquilo que acho que é ensinar”! Para passar a achar o quê? [Ensinar será sempre - dêem as voltas que derem ao conceito - fazer com que o outro aprenda!] Para já, não tenho mais que focar-me na estrada antes da curva a que chegarei quando chegar, a conduzir o veículo que melhor se adaptar à estrada e ao meu tipo de condução. Talvez faça falta um curso de condução intensivo, para garantir o risco mínimo de despiste, talvez! A mim, sobretudo, falta a paciência para penduras irritantes a gritar-me ao ouvido: olha a passadeira, cuidado que o carro da frente abrandou,… tra  ááá  va … –  Nestas alturas, apetece-me quase sempre dizer: salta tu para aqui, que eu vou para aí berrar.

Nos tempos mais próximos, não há como “pôr novamente em estado conveniente” o estado a que a escola chegou. Não há, ponto! Então, distancio-me dela. Não para me agarrar a outra forma de escola, mas para colocá-la em suspenso, até melhores dias!

Tão cedo não quero saber de escola [que está onde está], mas quero, isso sim, manter-me ligado aos meus alunos: 4 procurar saber como estão, quais as suas preocupações e dizer-lhes o que me preocupa; perguntar-lhes como posso ajudá-los a “passar o tempo” e dar-lhes conta dos meus planos: os encontros que quero agendar, na plataforma que escolhermos; falar dos livros que tenho para ler com eles, dos livros que eles, talvez, possam querer ler comigo; falar da correspondência que vou ter com todos e com cada um deles; dos desafios que estou a pensar colocar no grupo privado que temos na net, …  e o mais que vier das conversas que tivermos entre nós 5

É claro que não tenho como fugir do “funcioná­rio” que, sempre diligente, me vai en­cher a caixa de correio [electrónico], com toda a sorte de impressos, a pedir-me in­for­mações sobre coisas que, porque propositadamente deixei passar ao lado, não faço. Por isso, se tiver de burlar…, com toda a criatividade de que for capaz, burlo! 6

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1 In Poemas inconjuntos
2 Alberto Caeiro, ibidem
3 Ilídia Cabral [prof. Faculdade de Educ. e Psicologia da U. Católica], “Os professores têm de fazer ‘reset’ daquilo que achavam que era ensinar”. In TSF, Rádio NotíciasResetRepor, voltar a pôr; colocar de novo; pôr de novo no seu devido lugar; pôr novamente em estado conveniente. In Dicionário Inglês/Português, Porto Editora
4  Sem currículo estrito ou avaliações sumativas, a opção é de que a escola deve manter uma relação cultural de largo espectro”. Francisco Teixeira
5 No fim, quem sabe, talvez, tudo isto seja o início de reset, daquilo que eu acho que é ensinar. Ou não é início nenhum, e tenha achado sempre que ensinar passa por aqui.
6 A lealdade do professor não pode ser com o livro de sumários, nem com relatório de aula, nem com coisas parecidas. A lealdade dos professores é com as crianças. Portanto burlem o que puderem. Rubem Alves

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