domingo, 12 de novembro de 2023

Poesia, o elemento principal de todas as artes

A propósito da leitura de dois poemas de Nuno Júdice

Daniel Lousada

A leitura que o poema pede ao leitor que faça, é a leitura que qualquer texto, de vocação literária, gostaria que fizessem dele. Nem todos o conseguem, e muito menos conseguem todos alcançar esta ambição. 

A poesia é o elemento, o denominador comum de todas as artes. Mas para que possa ser identificado, ou melhor, sentido ou, no mínimo, pressentido, precisa de estar presente no olhar de quem dá de caras com ela.

Poemas extraídos do livro "Uma Colheita de Silêncios", Lisboa, D.Quixote, 2023: pp. 48 e 101


Nem tudo que se escreve é fruto de um trabalho de escrita!

Daniel Lousada
Da não escrita na rede

A escrita que se produz nas redes sociais, em comentários de todo o tipo, será escrita na forma, mas não é escrita de facto. Assemelha-se à fala que se produz por impulso, mas com a desvantagem de não permitir ler a reacção do interlocutor, impressa no seu rosto, que permite, se for o caso, reformular o que foi dito.

«A escrita possibilita adiar o impulso imediato e permite-nos passar pelo desvio da reflexão e da correcção. A ausência do outro, olhos nos olhos, ao dar-me tempo, não me obriga a ser perfeito à primeira: é por isso que a escrita é inseparável do trabalho sobre a língua»*. E é isto que, por regra, não acontece na “rede”.

domingo, 5 de novembro de 2023

Escola Inclusiva - Um problema com futuro

Jorge Barbosa
O congresso de Salamanca, em 1994, reforçou as linhas tendenciais mais inovadoras que, desde os anos oitenta, se vinham desenhando no horizonte da Educação especial e nos movimentos genericamente designados de "Escola para Todos". As conclusões do Congresso, de cariz essencialmente político, como era conveniente que fossem, não cortam as raízes do passado que as justificam e legitimam. Pelo contrário, enxertam nelas princípios e ideias revigorantes que visam promover mudanças nos sistemas educativos e inovações nas escolas, como se faz a árvores de frutos amargos para que, com o mesmo ou maior vigor, nos proporcionem frutos que não agridam quem os coma.

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Da necessidade do tempo estendido

A gravura com a imagem de Eugénio de Andrade
foi extraída do site da Livraria Bertrand
Este poema de EUGÉNIO de ANDRADE merece lugar de destaque em qualquer espaço, como convite à pausa. Por exemplo, numa sala de aula, quando o tema convida à reflexão, ou aquela proposta de escrita leva ao impulso de escrever sem parar, sem a pausa que permite observar se o escrito, antes de ser dado como pronto, corresponde à intenção que levou à sua escrita.

Convém então perguntar: Será que o que sentes, vês, ouves..., merece essas palavras? São essas as palavras capazes de mostrar tudo isso?

Em tudo na vida, como diria Jorge Carrión o que mais nos merece, dispensa-nos a pressa de chegar, pede-nos um tempo estendido: "o desejo não pode ser imediatamente saciado - diz Carrión -, porque então deixa de ser desejo, transformar-se em nada"*. Ou como escreveu Vergílio Ferreira, “o desejo alcançado não esgota o desejar”.**

Daniel Lousada

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* in "Contra a Amazon e outros ensaios sobre a humanidade dos livros".

** in “Pensar”