À pergunta «Não deveria produzir-se manuais escolares que pudessem ser reutilizados?», Vasco Teixeira responde que «no 1º ciclo é um erro que os livros não tenham espaço para escrever, assim como na aprendizagem das línguas». Porquê? «Se for a qualquer país ver um livro de aprendizagem de inglês, ele tem espaço para escrever, porque é a forma mais eficaz de aprender»! Quer dizer, para este senhor (e a associação que representa as empresas deste sector), se o aluno realizar a proposta de trabalho sugerida, utilizando o papel e o lápis, que tem ao lado do manual, a aprendizagem não é tão eficaz. Eficaz, mesmo, só a escrita que o aluno faz no manual escolar. Porquê? Porque sim, porque é assim que se faz em qualquer país com dinheiro para alimentar o negócio.
«O escrever no livro é um guião para eles (os alunos) controlarem o espaço»! — continua Vasco Teixeira, não sei se com ou sem vergonha. Imagino — só posso imaginar, porque não assisti à entrevista — que tenha dito isto sem se rir. E a entrevistadora certamente que não atingiu a piada.
A sério, um guião para controlarem o espaço? Quem sabe, talvez, que para este senhor, quando um professor diz aos seus alunos que a resposta àquela pergunta é para ser escrita em duas ou três linhas, não está a fazer bem o seu trabalho.
É impressionante o que se consegue dizer, para defender que um manual escolar não é para ser partilhado e só deve servir a um único aluno.
Não deveria valer tudo neste negócio (e que aliás não deveria ser um negocio). Mas, ao que parece, vale.
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[1] Entrevista concedida ao Jornal Público, por Vasco Teixeira, a propósito dos vinte anos da criação da plataforma digital «Escola Virtual», pertença do grupo Porto Editora de que é co-proprietário.